Na história da música Boi Soberano, de Tião Carreiro, o boi começa como um grande vilão e termina como um grande herói. Será que cabem analogias a respeito deste animal tão criticado? O boi que enfrenta e que se teme pela força física, com seus chifres pontiagudos, não mais oferece esse tipo de perigo, mas sim riscos de maior envergadura e complexidade. Afinal ganhou notoriedade no desconhecimento das vozes nas redes sociais. Provavelmente caberia em alguma letra de música novamente, dos também falecidos Mamonas Assassinas.
Brincadeiras à parte, a soberania da qual me refiro é mercadológica, pois recentemente este boi retomou sua condição de preço no mercado mesmo sem importação pela China. As indústrias frigoríficas, com auxílio do Ministério da Agricultura, retomaram o mercado russo e agregaram mais alguns países da Eurásia no pacote, zerando a tarifa de exportação para determinada cota.
Nessa mesma linha, outros países como Chile e Estados Unidos também entram no mercado, retomando ou importando maiores volumes. Países muçulmanos já fazem parte dessa carteira, assim como um mundo inteiro de opções.
A China é um gigante e todos sabemos disso, deve ser respeitado e almejado. Porém, essa sua condição não pode ser maior que a estratégia de sermos um celeiro de alimentos para o mundo. Fica cada vez mais claro que a habilitação de plantas frigorificas que antigamente não conseguiam exportar, fortaleceu e deu sustentabilidade nesse mercado diminuindo sua volatilidade e fazendo com que situações atípicas sejam encaradas com mais sobriedade.
Mesmo com distorções pontuais e até pertinentes, a nossa cadeia produtiva vem se fortalecendo e ganhando muito conhecimento, o que anteriormente parecia pertencer apenas aos frigoríficos. O produtor entendeu que a sanidade é fundamental e que os aspectos nutricionais abrem nichos e preços mais convidativos, assim como a genética e manejo racional.
As indústrias por sua vez estão mais abertas para troca de informação com o produtor e não estão tão engessadas no mercado interno, agregando valor e motivando sua naturalidade empreendedora. As experiências ruins do passado devem servir apenas para engrossar o couro, já que a carne tem que ser macia e suculenta.
Votando na soberania e no fundamentalismo das coisas, a macro visão de uma situação às vezes fica mascarada por questões menores do que a realidade, ou presa a alguma ideologia que na maioria das vezes vem atrelada a uma estratégia que morrerá no futuro.
*Márcio Cotini é Zootecnista pela Universidade de Marília - SP, pecuarista e empresário rural no Estado do Tocantins. Atua como analista de mercado e assessor de abate bovino.
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